sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Linguagem e pensamento: as minhas memórias e a forma como eu interpretava o mundo

Inicio do século XXI. Eu tinha por volta dos meus 8/9 anos, eu estava de férias em Bombinhas, Santa Catarina, na casa da minha falecida bisavó materna. Um dia, eu estava assistindo uma novela junto com o restante da minha familia. Eu lembro de observar, muito atentamente, a televisão. Mesmo concentrado naquelas imagens, eu não conseguia entender nada: o contexto da cena ou os diálogos. Por muito tempo eu fiquei intrigado com este fato, por eu ser incapaz de interpretar ou entender coisas que, hoje em dia, não me trazem nenhum desafio para compreender. Mesmo que hoje, eu quisesse gozar desta dádiva de não compreender uma cena de uma novela, eu seria incapaz de fazê-lo. Só pelos diálogos, eu sou capaz de compreender, minimamente, o contexto, e a intenção dos personagens, e o que eles estão dizendo. Essa lembrança do passado me traz nostalgia, quando a experiência de assistir novela era algo tão imagético, lúdico, misterioso. Essa mesma experiência, agora, só traz agonia e infelicidade por causa daquela forma dramática saturada e questionável, tornando impossível assistir um episódio inteiro.