segunda-feira, 1 de junho de 2020

Uma Breve história dos desenhos animados

Pretendo aqui redigir um ensaio despretensioso acerca da evolução histórica dos cartoons. Não me baseei em longa pesquisa, e nem em artigos em espanhol traduzidos do alemão (se é que a literatura acadêmica sobre o tema chega nesse nível). É tudo baseado em minhas observações pessoais.
Redijo este ensaio afim de tentar compreender os desenhos atuais, e o caminho percorrido pelos desenhos até aqui.






Dos percursores ha Hanna Barbera e Scooby-Doo (Decadas de 1920 - 1970). 

Na primeira metade do século passado, a Disney forneceu grandes contribuições para as animações com seus filmes. A Warner Bros, por sua vez, estabeleceu, no mundo dos desenhos, a formula narrativa que ira predominar por, pelo menos, 50 anos: a "disputa dos opostos". Essa formula narrativa é bem simples: a trama do desenho gira em torno da disputa de dois personagens opostos entre si (gato x rato, coiote x papaléguas, coelho x caçador, passarinho x gato, etc), fazendo com que um sempre leve vantagem sobre o outro. Essa formula foi reproduzida até a exaustão, quando por volta dos anos 60/70, a Hanna Barbera surgiu no mercado de animação com a proposta de fazer desenhos com outras temáticas: Flinstones e Jetsons eram desenhos sobre famílias em diferentes "tempos históricos", com todas as ressalvas quanto ao anacronismo. Da disputa dos opostos, a formula narrativa se deslocou para a família (que existe até hoje). Além da familia, foi a primeira vez que um desenho se preocupava mais com o ambiente em que os personagens estavam inseridos. Nos desenhos do Looney toones, o ambiente não era tão explorado, já que o desenho se resumia a apenas a mostrar a batalha entre os opostos. Já nos Flinstones e Jetsons, o ambiente funciona como um personagem a parte: quando os personagens não são um "mocinho" e um vilão que lutavam entre si, as relações entre os personagens e o meio podiam ser melhor exploradas. O desenho é sobre uma familia e como ela se relaciona com o seu ambiente histórico fictício: Os Jetsons e toda a tecnologia futurista, os Flinstons e sua tecnologia rudimentar, feita graças a exploração da mão-de-obra pré-histórica (os dinossauros). 

Das primeiras familias nucleares, a Hanna Barbera estabeleceu outra formula narrativa: grupos de amigos contra inimigos comuns, sendo Scooby-Doo o maior exemplo disso. Existia um antagonista a se combater, mas agora, o desenho era permeado pelo mistério, e o vilão era desmascarado graças ao trabalho em conjunto deste grupo de amigos. A Hanna Barbera pretendia, com esse desenho, atingir o publico jovem da época, representando jovens adultos como protagonistas. 
A Hanna Barbera também lançou as primeiras séries de super-heróis, como "Superamigos".

Década de 1980: Conan - She-ra.

A década de 80 foi a década dos desenhos de fantasia medieval e aventura épica, como Caverna do Dragão, He-man e She-ra. Estes desenhos foram muito influenciados por Dungeon and Dragons e por fantasy novels como Conan. 

Década de 1990 - 2000: as origens da Nickelodeon e Cartoon Network

Nos anos 90, o mundo da animação já não era mais uma floresta pouco explorada e desconhecida. Desde dos anos 20, com os primeiros filmes e desenhos, a animação já tinha uma trajetória de mais de 50 anos. Com os avanços da tecnologia e com a profissionalização da indústria de animação, havia se estabelecido as condições necessárias para a expansão das possibilidades criativas, com o surgimento de desenhos com uma infinidade de temas, cores e formas. Esse periodo também é conhecido como a origem dos principais canais de desenhos da atualidade: a nick e o cartoon. Na Nick, surgiram desenhos sobre Castores, sobre uma esponja do mar, sobre padrinhos mágicos, e sobre um garoto com uma cabeça com um formato esquisito (Arnold). No Cartoon, tivemos meninas superpoderosas, um menino prodígio e sua irmã insuportável, um cachorro rosa que só tem coragem no nome, crianças que lutavam contra adultos, idosos e adolescentes; amigos imaginários que viviam em uma mansão, uma menina capirotesca e um menino retardado que tinham escravizado o ceifador sinistro, etc. Com tanta variedade, é difícil encaixar tudo isso a uma ou duas formulas. 

De Avatar até Steven Universo: Quando os desenhos superaram as séries em life action

Ainda no final da primeira década deste século (2001-2010), surgiram dois desenhos que seriam muito relevantes nos anos que viriam: Avatar e Flappy Jack.
Exibido pela primeira vez na Nickeoloden, em 2005, Avatar foi o primeiro desenho a desenvolver uma trama complexa, com personagens profundos e cheios de camadas, com arcos de desenvolvimento para cada um dos personagens principais. A jornada dos personagens e dos eventos foi muito bem construida. Nenhum personagem permaneceu o mesmo ao longo de toda a série, como o rio e o homem do ditado filosófico de Heráclito. Alguns tiveram seu arco de redenção, alguns encontraram seu caminho, outros até enlouqueceram; e alguns encontram a solução de seus problemas transpondo os dogmas antigos, baseados no ódio e na guerra. Os personagens mudam, se transformam, diferente de muitos personagens que até então permaneciam na inércia de suas personalidades já pré-determinadas (quer dizer, nenhum desenho tinha tentado desenvolver os arcos de seus personagens de maneira tão complexa).



Flappy Jack, em si mesmo, não apresenta muitas inovações criativas ou narrativas. Ele é um desenho com uma paleta de cores frias, sobre um menino, um marujo e uma baleia, que vivem em uma cidade flutuante no meio do mar. Sua relevância não está no desenho em si, mas das pessoas por trás de sua produção: ninguém menos, ninguém mais do que os criadores de Hora de Aventura, Apenas um Show, e Gravity Falls, os desenhos que iriam definir as grandes mudanças no cenário audio visual infanto juvenil. 


Seguindo o tom de Avatar, Hora de Aventura foi outro desenho que começou a explorar os arcos de personagem, e que optou por uma história com continuidade ao invés de episódios isolados, que não se preocupavam em desenvolver uma narrativa central. Como Avatar, foi um desenho que foi feliz em explorar questões difíceis, como morte, guerra nuclear, mundo pós-apocalíptico, com episódios filosóficos e alguns até assustadores, com destaque para a sexta temporada, que é, para mim, uma verdadeira viagem de ácido e o ponto alto da série.

Então, veio Steven Universo...Criado por Rebecca Sugar em 2013, que tinha trabalhado na produção de Hora de Aventura, Steven Universo soube explorar ainda mais o terreno pavimentado por HA. Rebecca Sugar sabe explorar os sentimentos dos personagens. É sério! O que mais essa mulher sabe desenvolver é uma história sobre sentimentos e emoções, e essa é a melhor descrição que eu poderia redigir a cerca do desenho. Ela conseguiu me fazer chorar assistindo um desenho animado, então, eu não tenho mais o que dizer sobre isso...
E além desta parte acerca das emoções, o desenho foi um dos primeiros a abordar a questão de gênero, questionando muitos dogmas e tabus tanto do mundo ficcional da série, quanto do nosso mundo real. No meu antigo blog eu escrevi a este respeito [link], e já existe uma vasta literatura acerca das discussões sociais trazidas pelo desenho.

E nem todos os desenhos da nova década precisam ser tão revolucionários e profundos para se destacarem, a exemplo do Incrível Mundo de Gumball. Apesar de não possuir um universo tão complexo e bem trabalhado como os citados anteriormente, Gumball tem um humor muito bem construído, e uma estética única, com personagens com uma infinidade de traços e estilos diferentes, sendo que isso nunca foi tentado antes em um único desenho.

E fora do ambito da Cartoon Network, a Disney lançou, em 2013, uma das suas mais memoráveis séries: Gravity Falls. A série é permeada por uma série de mistérios que são desenvolvidos ao longo de todo o desenho: mensagens criptografadas, laboratórios secretos, e diários de um autor desconhecido que tentava entender os eventos paranormais que assolavam a pequena cidade de Gravity Falls, no interior do estado do Oregon. Além de todo o mistério, o humor e os personagens da série são muito bem construídos, e a história, com apenas duas temporadas, é muito bem fechadinha e concisa.

O futuro

Não sei ao certo se os desenhos que estão por vir, nesta década, superarão os desenhos da década anterior, ou manterão o nivel deixado por seus predecessores. Mas as inovações não podem ser simplesmente ignoradas ou deixadas de lado.

Do que se pode inferir, com o pouco que temos, são algumas algumas boas produções da Cartoon Network, da Dinsey e da DreamWorks. A Cartoon, com Infinity Train; a Disney com o sucessor espiritual de Gravity Falls, The Owl´s House; e a Dream Works com o rebot de She-ra e Kipo.

Que o futuro reserve o fim das franquias e séries já desgastadas no tempo e que sobrevivem por meio de aparelhos (Bob Esponja, Simpsons e Family Guy), e nos presenteie com o desenvolvimento histórico natural destes desenhos fantátiscos da década de 2010.

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