terça-feira, 16 de março de 2021

A morte das instituições e o Manifesto do Suicidio Coletivo

Fevereiro de 2021 – foi eleito o presidente da câmara aliado ao Bozo. Está evidente, como estava há meses, e há muitos anos atrás, o descrédito absoluto das instituições burguesas (eu não sei mais o que precisa ser feito para estabelecer, ou demonstrar de forma brutal este descrédito). O mundo pode estar em chamas, o enxofre pode sufocar e assassinar milhões de pessoas, que a velha estrutura política e social brasileira nunca muda. 

 

Eu sou uma pessoa simples, e com inteligência limitada. Não sou um doutor, mas um reles graduado em um curso extremamente desvalorizado em meu país (história), e que mesmo não sendo um mestre historiador, que vive de livros, e que tem as 7 esferas do dragão do conhecimento historiográfico, para mim, só esse evento já é prova suficiente de qual quer impossibilidade de tentar estar dentro do jogo da instituições nacionais. Muitos mestres das esferas do dragão podem insistir ainda no caminho institucional, nas boas maneiras, nos bons costumes, e nas cartas de repúdio. Mas, a priori, não há sentido nenhum em obedecer as leis, valores, por que não rumar pelo caminho da desobediência civil, completa e irrestrita? A gente pode ter cogitado essa ideia muitas vezes, mesmo que vagamente, mas por que só muito poucos, de fato, rumam por este caminho? É por que ele requer muita coragem. 

Pensar em rumá-lo, de forma inconsequente, pode muito bem custar sua vida. E mesmo, o planejamento bem enviesado deste rumo não diminui os riscos. É um caminho de muita coragem ou muita burrice. Eu sei que a solução não se dá apenas no âmbito individual, e sei, superficialmente, da tese do poder paralelo, do poder popular. Mas ao tentar superar o sistema, ou criar o poder paralelo dentro das entranhas do poder já estabelecido, haverá muitas consequências. É como naqueles filmes que sempre tem um protagonista, uma pessoa de um movimento social, que luta ferozmente por mudanças em sua comunidade, fábrica, cidade, e que para isso, precisam superar muitos desafios, obstáculos, e principalmente, superar os inimigos reacionários, que pretendem lutar pela manutenção de seus privilégios: os coronéis da cidade e os coronéis da indústria. Os coronéis sempre jogam muito sujo, e tem muitos meios materiais para convencer as pessoas a não colaborarem com seus inimigos de classe. Mas, no final, tem sempre o final catártico de redenção da classe trabalhadora (na vida real esses “finais catárticos” também acontecem, mas não com o mesmo número e intensidade nos últimos tempos).

Eu acho muito difícil essa redenção ocorrer. Existem algumas pessoas lutando, fazendo tudo que é possível, mas creio que o ódio e enxofre prosperarão (isso parece uma fala tirada de um filme, onde existe uma ameaça muito grande a vida no planeta terra...Bom, o problema que isso não é uma ficção).

Mas por que vociferar discurso radical e revolucionário, se não fiz nada ou quase nada a vida inteira? Estive alienado, e me alienando por muito tempo. Consciente do estado de coisas, mergulhei no cinismo e no niilismo. Mesmo quando era possível agir, eu não agi. Não agi, de forma efusiva e corajosa, nos momentos em que a conjuntura me permitia. Não controlo exércitos, ou milícias, mas eu já tive certas possibilidades de ação e militância, que eu não fui ousado o suficiente para colocar em termo. Fui e sou incapaz de dialogar e relacionar com as pessoas, e talvez, seja individualista demais para se importar de verdade com o mundo e com os outros – e não é sobre isso que o socialismo versa?


Falamos em guerra civil, mas quem aqui realmente conseguiria aguentar a rotina estressante de batalhas, e o perpetuo desgaste físico e emocional? Com um argumento que eu posto numa rede social eu já passo o dia inteiro estressado, pensa numa guerra civil?

Acho que, inconscientemente, todos nós, ou quase todos nós, já fizemos um pacto de resignação. Estamos resignados e conformados. Seria interessante se as pessoas se reunissem, mundialmente, apenas para selar o pacto universal do cinismo mediante um fim eminente. O lema, seria, aproveitar os últimos anos que nos restam, pois tanto o Brasil quanto o mundo podem se extinguir em poucas décadas. Deveríamos aceitar este fim e tentar viver da melhor forma possível? 

 

O Suicidio Coletivo

 

            Há questões a serem respondidas: 1) Devemos salvar o planeta? 2) Vale a pena salvar o planeta? 3) Devemos fazer tudo que está ao nosso alcance afim de manter a vida humana e terrestre, e preservar o planeta para as futuras gerações? 

          Essas perguntas podem soar simples, ou conter respostas óbvias do leitor. Mas as ações de milhões de pessoas, e a indiferença com que muitas pessoas demonstram em relação a manutenção de nossas florestas e recursos, parece indicar a extrema relevância destas questões. 

           Eu tenho impressão que existem muitas pessoas optando pelo suicídio coletivo, inclusive muitas pessoas da classe dominante. Agem pela máxima moral de ansiar chegar ao Reino de Deus transformando o mundo num inferno. Estas pessoas esperam sobreviver mais de 20 segundos sem o oxigênio, fornecido pelas arvores e pelos oceanos? Esperam sobreviver mais de 3 dias sem água quando os rios secarem, por que não há mais floresta e chuva? 

 

          A pergunta que faço, tanto para mim mesmo quanto para a sociedade; é se realmente queremos viver. Se estivermos dispostos a salvar o planeta, supõe-se que queremos viver. E se queremos viver, é necessário conhecer quem são as pessoas e qual é o sistema econômico que está diminuindo a expectativa de vida da humanidade em muitas décadas. Ter consciência, sobretudo, que as soluções não serão possíveis dentro do sistema (eu vou estar muito feliz se estiver errado).

        A mim, me consola apenas o fato que eu não sou um ruralista filha da puta que quer destruir até a ultima área verde para plantar soja, todavia, o consolo não basta para salvar o planeta. Eu tenho contribuído um pouco para a morte do planeta, consumindo carne e produzindo lixo, mas nada que se compare a uma monocultura de grande extensão, ou a pecuária extensiva, ou as grandes indústrias. Talvez tudo esteja perdido, e não haja retorno, mas por uma questão de honra, ainda haverá pessoas que continuarão lutando, mesmo com o fim premeditado. 

 

Quanto as perguntas que fiz no começo deste capitulo; eu, pessoalmente, posso responde-las da seguinte forma:

Se devemos e se vale a pena salvar o planeta; eu acho que sim, porque eu sempre gostei de florestas e rios, e a mera possibilidade deles secarem, ou serem soterrados por prédios ou estacionamentos, me causa grande aflição (a ideia mais deprimente e horrenda é a minha impotência diante dos grandes movimentos históricos aos quais não possuo qual quer controle). Eu ainda quero desfrutar dos rios, das arvores, e dos oceanos. Adoro florestas, bosques, gramados, mais até do que pessoas. Isso pode ser uma possível motivação para mim. Sonho em um dia que possamos, coletivamente, viver em cidades mais verdes, que se pareçam muito mais com bosques do que coleções de prédios cinzas. Talvez os sonhos possam me motivar, quem sabe.

 

O projeto da primeira "Cidade Florestal" do mundo no México. Para saber mais, clique aqui.

 

Quanto a terceira pergunta, se devemos fazer de tudo ao nosso alcance para salvar o planeta, eu creio que a resposta poderia ser um "sim", mas ainda sim, seria necessário ressaltar se estaríamos dispostos a morrer por isso, porque é uma possibilidade, tendo em vista nosso contexto atual. Nossos inimigos controlam corações e mentes, e possuem todo o aparato militar que os convém. Eliminar opositores isolados ou grupos inteiros, não é um desafio para eles.

 

A conclusão existencial

 

Eu penso em toda essa questão levantada aqui já faz algum tempo. Ao elaborar toda essa questão, que traduzi materialmente neste ensaio, a questão sempre teve um viés existencialista para mim. Não é nem se "eu quero, ou se queremos viver". A questão é mais como: "Por que viver"? Todo empenho de salvar o planeta deve, para mim, passar por esta questão (como afirmei anteriormente, não é possível empreender todo um esforço para salvar o planeta, se o indivíduo não anseia pela manutenção da própria vida e da vida dos outros). Talvez, na construção do futuro, onde o capitalismo seja superado, e a humanidade e o planeta não estejam mais ameaçados, esta questão não faça mais sentindo, sendo esta, uma realidade onde vale a pena viver.

Particularmente, eu encontro motivos para viver se ignorar o mundo das noticias por alguns dias. Os projetos pessoais também ajudam. Mas, num nível macro, ainda resta a questão que eu, reles mortal, não pude responder neste ensaio; e que, só a longo prazo, a humanidade fornecerá a resposta: "Queremos viver?". 

 


 





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